Homem versus Natureza

Homem versus Natureza

Por: Ken O’Donnell – diretor da Brahma Kumaris na América do Sul

A natureza é vista de forma romântica, como um tipo de utopia que contrasta com a distopia, ou antiutopia, do aumento da população urbana e o materialismo desenfreado. A imagem do “nobre selvagem” − retratada por Jean-Jacques Rousseau − vivendo harmoniosamente com a natureza, livre de todos os males do egoísmo, inspira fundamentalistas ambientais até hoje.

Por outro lado, o antropocentrismo, infelizmente considerado ainda uma visão atual, considera o homem como sendo o principal componente da criação e, por isso, lhe atribuindo o direito de explorar infinitamente os recursos naturais do planeta que lhe foram predestinados por algum decreto divino. Entretanto, não podemos nos esquecer que outras espécies também possuem lugar próprio no planeta. Há mais micróbios em um centímetro cúbico do solo do que já houve seres humanos em toda a história. Apenas recentemente começamos a questionar estas duas posições extremas para tentar encontrar o ponto de equilíbrio. Empresários, políticos, cientistas e cidadãos comuns tentam fazer uma ponte entre a preservação da beleza inerente ao nosso frágil planeta azul e o uso racional de seus recursos.

A dificuldade, entretanto, é que a dialética para ambos os extremos, as quais refletem nossa posição com respeito à natureza, é equivocada. Não é o Homem contra a Natureza, ou como se ele (o homem) estivesse lutando contra isso por muito tempo e agora devesse, então, adotar outra mentalidade a fim de “salvá-la”. Mesmo nossos corpos são constituídos dos mesmos elementos: é o mesmo ar, água e alimento que sustentam cada molécula. As cidades também são a natureza transformada: as rochas que se tornaram cimento e aço; as árvores que foram convertidas em vigas, pisos e móveis; as florestas antigas que acabaram como petróleo e, por fim, plástico.

A natureza não é algo que começa onde a cidade termina. Ela está em toda a parte, em tudo o que podemos ver, sentir e tocar. Vale a pena refletir sobre as implicações da física quântica em nossa visão de mundo. Há mais de 80 anos a física quântica abandonou a divisão entre observador (tipicamente um ser humano) e o observado (tipicamente a matéria inanimada). Ambos formam o todo. Um influencia o outro. Evidentemente, este não se refere apenas à matéria, mas sim ao que fazemos com isso na construção da sociedade. Isso não significa que as entidades conscientes, chamadas “almas”, sejam matéria. No entanto, juntas, elas formam todas as situações que compõem nossa realidade aqui. 

Enquanto continuarmos a ver a natureza como algo separado, um sujeito passivo, como um paciente inconsciente na mesa de operação; não entenderemos a profundidade da interrelação e interdependência entre nós e o planeta, que pode ser comparada a de um casamento duradouro que fracassou. A dança entre o observador e o observado implica que os problemas externos na natureza e, portanto também na sociedade, são manifestações da contaminação e confusão que reinam dentro de nós. Eles são inseparáveis.

Cabe aqui citar uma famosa frase de Einstein: “Não podemos mudar nada usando o mesmo tipo de mentalidade de quando as criamos”. Klaus Töpfer, Diretor executivo do programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), colocou isso de forma clara: “Nosso conhecimento sobre os ecossistemas aumentou drasticamente, mas não acompanhou o ritmo através do qual somos capazes de alterá-los. Podemos continuar cegamente alterando os ecossistemas da terra, ou podemos aprender a usá-los de forma sustentável”.

Nossa capacidade para alterar os ecossistemas é proporcional à nossa capacidade para mudar nossa própria consciência. 

Nosso verdadeiro trabalho vai muito além da discussão do custo benefício dos programas ambientais. Vai muito além também da discussão sobre as necessidades dos outros seres vivos ou debates sobre o que realmente significa desenvolvimento sustentável.  Em 2008, o mundo alcançou um marco histórico. Pela primeira vez, mais da metade da população humana, ou seja, 3.3 bilhões de pessoas estavam vivendo em áreas urbanas − muitas delas sonhando nostalgicamente com aquela natureza pura que já havia existido, se esquecendo que eles também fazem parte da natureza. Literalmente, destruir a natureza significa destruir a nós mesmos. E, a propósito, quando você vai voltar para a sua praia deserta ou sua casa nas montanhas?

Para mais informações sobre este e outros assuntos, conheça nossos Livros, CDs e DVDs.